sexta-feira, 1 de julho de 2022

Monotrilho

Sem aditivo bilionário, consórcio chinês ameaça abandonar obras do VLT

01/07/2022 - Correio

Por Jairo Costa Júnior

Responsável por tirar do papel o projeto do VLT do Subúrbio, o consórcio chinês Skyrail ameaça abandonar a obra em curto prazo caso o governo do estado recuse injetar ao menos R$ 1,5 bilhão em aditivos ao contrato de concessão firmado por meio de Parceria Público-Privada (PPP). Conforme revelado pela coluna em 28 de janeiro deste ano, a construção do novo sistema de transporte foi paralisada ante a exigência dos chineses. Inicialmente, o governador Rui Costa (PT) estava decidido a não ceder às pressões por mais verba além da prevista. Porém, as saídas possíveis para superar o impasse e destravar o VLT, incluindo o rompimento ou a caducidade do contrato, esbarraram em dificuldades legais e operacionais.

Me inclua fora dessa

Segundo fontes do próprio governo, a falta de opções quebrou a resistência de Rui. Mas nem os técnicos da Secretaria Executiva de PPPs e nem da Procuradoria-Geral do Estado aceitaram dar parecer favorável ao aditivo, por receio real de responderem judicialmente pelo ato.

Prova dos nove

Quando o abacaxi do VLT foi revelado pela Satélite, a assessoria de comunicação do governo classificou a notícia como inverídica, embora tivesse admitido, em nota enviada a sites e portais de notícias, entraves ao projeto provocados pela cobrança dos chineses da Skyrail por mais dinheiro. À época, garantiu empenho para eliminar as barreiras de forma rápida e recuperar o atraso na obra o quanto antes. Desde então, não houve quaisquer avanços nas negociações com o consórcio e na busca por soluções capazes de resolver o imbróglio.

Limonada sem limão

O presidente do PT na Bahia, Eden Valadares, tentou minimizar ontem as informações de que o candidato da União Brasil a governador, ACM Neto, está prestes a consolidar o apoio de 10 dos 13 prefeitos da Região Metropolitana de Salvador (RMS), oito deles já confirmados oficialmente, conforme publicado na última edição. Em entrevista ao portal da Salvador FM, Valadares disse estranhar o levantamento restrito à RMS, já que se trata de um território bastante influenciado pela política da capital e que, por isso, os adversários têm mais força do que PT nas cidades da região.

Jogo de cena

A equipe de marketing da pré-campanha do candidato petista na disputa pelo Palácio de Ondina, Jerônimo Rodrigues, recorreu aos blocos afros para engordar o cortejo governista no Dois de Julho. Entre os quais, os Filhos de Gandhy, um dos mais numerosos e tradicionais de Salvador. A ideia, além de mostrar adesão popular na festa, é vitaminar a captação de imagens para a propaganda na TV.

Meia-volta

A retirada do apoio da União dos Municípios da Bahia (UPB) foi decisiva para que o Tribunal de Justiça adiasse a votação da proposta que cria o chamado Cartório Único em 89% das cidades do estado, cuja implantação abre brechas para fraudes e limita o acesso a serviços extrajudiciais no interior. Sem o respaldo da UPB, a aprovação sobe no telhado.


quinta-feira, 10 de março de 2022

Monotrilho

Governo reajusta contrato do VLT para R$ 5,2 bilhões

09/03/2022 - Correio

Por Gil Santos

Vereadores quem explicações do motivo do valor ter saltado de R$ 1,5 bi para mais que o triplo

O valor do contrato para a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que vai substituir os antigos trens do Subúrbio Ferroviário de Salvador foi reajustado pelo Governo do Estado. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur), o documento assinado com a concessionária para a implantação e operação da Fase 1 do sistema foi de R$ 2,8 bilhões, quase o dobro do que havia sido divulgado, mas foi necessário um novo reajuste porque a empresa vai operar também a Fase 2. A conta está em R$ 5,2 bilhões. 

O contrato é uma Parceria Público-Privado (PPP). Vereadores e entidades de classe dizem que as informações não estão claras e acusam o governo de falta de transparência. Houve mudança também no modelo que será implantado, o veículo não será mais sobre trilhos, o prazo de concessão foi ampliado e não foi divulgado o cronograma de execução das obras. Especialistas e usuários criticaram as medidas.

Essa foi a segunda audiência pública realizada pelos vereadores de Salvador para discutir o assunto. A primeira aconteceu em fevereiro, mas o Governo do Estado não compareceu. Um ofício foi encaminhado para a Sedur solicitado esclarecimentos via Lei de Acesso à Informação e um novo encontro foi marcado para esta quarta-feira. Mais uma vez o governo não mandou representante, mas enviou uma resposta aos vereadores.

O documento assinado pelo secretário Eures Ribeiro afirma que o contrato foi celebrado com a Skyrail Bahia, vencedora da licitação, com valor de R$ 2,8 bilhões. O governo tinha divulgado na época da contratação, em 2019, que o montante seria de R$ 1,5 bilhão, e que a empresa ficaria responsável por operar 19 km do VLT, a chamada Fase 1 do sistema. Estava previsto aporte de R$ 100 milhões dos cofres públicos.

Em fevereiro de 2020, um aditivo foi assinado entre o estado e a empresa para que a concessionária operasse também a Fase 2 do sistema. Segundo o documento enviado para a audiência, a Fase 2 corresponde a realização de estudos para futura implantação do trecho de uma linha sobre trilhos de integração do VLT com a Linha 1 do Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas (SMSL). A Skyrail ficou responsável, então, por implantar e operar mais esse trecho.

“Em razão das alterações procedidas por meio do referido termo aditivo, o prazo original do contrato foi acrescido em 15 anos e o valor do ajuste foi alterado para R$ 5.262.680.725,33 (R$ 5,2 bilhões), tendo ficado pactuado, ainda, o aporte de recursos no valor de R$ 290 milhões, a serem pagos segundo cronograma de eventos da Fase 2, em adição aos R$ 100 milhões previstos a título de aporte de recurso para a Fase 1 da redação original do contrato”, diz o documento.

De acordo com essas informações, a contribuição pública saltou de R$ 100 milhões para R$ 390 milhões na implantação do VLT, além de mais R$ 152 milhões previstos após o início da operação do sistema. Para o vereador Cláudio Tinoco (DEM), proponente da audiência, não está claro se a Skyrail vai arcar sozinha com os cerca de R$ 4,5 bilhões restantes ou se haverá outras contribuições públicas.

“Na primeira audiência, as informações que tínhamos era de que o valor desse contrato era de R$ 1,5 bilhão e a gente verifica nessa resposta que o contrato original trazia o valor de R$ 2,8 bilhões. Já houve um aditivo um ano antes do início das obras, ou seja, em fevereiro de 2020, com aumento de 83% no valor desse contrato e ampliando em 300% o valor da participação do Governo do Estado”, afirmou.

As obras do VLT foram iniciadas em fevereiro de 2021. A Sedur afirma na nota enviada aos vereadores que o prazo de conclusão é de 2 anos e três meses, mas admite na que a construção está atrasada. A nota cita quatro etapas, mas não apresenta os prazos. Os vereadores criticaram também o cálculo que está sendo usado para avaliar a capacidade do sistema, serão 600 pessoas por vagão, ou seja, seis passageiros por metro quadrado.

“Essa é a mesma média que fazemos no carnaval. A experiência dentro do vagão será a mesma de estar no circuito no momento em que o trio está passando, um aperto”, afirmou Tinoco, que foi secretário de Cultura e Turismo de Salvador.  

Transparência 
A Fase 1 do projeto vai ligar o bairro do Comércio e o Subúrbio Ferroviário à Ilha de São João, em Simões Filho. Serão 21 estações e 19,2 km de extensão. A Fase 2 terá mais cinco estações, 4,08 km e vai alcançar a estação de metrô do Acesso Norte. A capacidade será para 172 mil passageiros por dia. O vereador Orlando Palhinha (DEM), que também comanda a audiência, disse que o principal problema é a falta de transparência.

“Os trens foram desativados há mais de um ano, um transporte alternativo não foi colocado para marisqueiras, pescadores e ambulantes que usavam o trem a R$ 0,50. Eles [governo] fizeram mudanças no contrato com dinheiro público e queremos que expliquem porque uma obra de R$ 1,5 bilhão foi para R$ 5,2 bilhões. Onde está a clareza? O governo tem que vir para o debate”, afirmou.

Palhinha contou que vai acionar o Ministério Público e pedir que o órgão faça a intermediação de uma audiência entre os representantes da Câmara e do estado. Os vereadores disseram que a nota enviada pela Sedur esclareceu alguns pontos, mas provocou outras dúvidas.

Enquanto as autoridades travam essa queda de braço e as obras se arrastam, a marisqueira Eliana Nascimento, 48 anos, observa o tempo passar da janela onde mora. “Antes, a gente catava o marisco e com R$ 1 conseguia levar na feira para vender e voltar para casa. A passagem era R$ 0,50. Agora, é quase R$ 10 para ir e voltar de ônibus. Não é justo”, disse. O VLT está previsto para custar R$ 2,20.  

Mudança
O auditório do Centro Cultura da Câmara Municipal de Salvador, onde a audiência pública foi realizada, ficou movimentado com a presença de diversas lideranças. Elas se alternaram na tribuna e listaram o abandono das máquinas, o avanço do mato e da ferrugem, e as dificuldades da população que foi obrigada a trocar o trem pela passagem de ônibus. Um dos pontos levantados é que o VLT que está sendo construído é um monotrilho, ou seja, vai transitar por uma estrutura elevada por vigas de concreto ou aço, e usando pneus.

Para os especialistas, além de descaracterizar o Subúrbio, essa alteração terá reflexos na economia e no trânsito. Uma das observações é que a vida útil é menor que a dos veículos que trafegam sobre trilhos. O arquiteto e urbanista apoiador técnico do Movimento Trem de Ferro/Ver de Trem, Carl Hauenschild, foi um dos convidados da audiência e disse que era preciso avaliar melhor as consequências.

“Essa mudança de trilho para elevados, pensando no transporte coletivo, vai interferir na capacidade de desenvolvimento econômico da cidade. O transporte sobre trilhos é fundamental para a economia e para o turismo, e esse modelo proposto impossibilita a criação de um trem regional para a Bahia, além de gerar congestionamentos nas regiões das estações no horário de rush”, disse.   

Os problemas apontados na audiência pública não são novidades. Segundo o representante do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o servidor Heinz Ulrich Ruther, a maioria das questões levantadas foram apontadas em uma auditoria feira pelo órgão.

“Trabalhamos com uma equipe multidisciplinar formada por economistas, engenheiros e advogados e analisamos o projeto. Por conta do regimento, não posso comentar os detalhes, mas posso dizer que 90% dos problemas apontados aqui foram colocados no relatório”, disse.

Procuradas, a Sedur e a Skyrail ainda não se manifestaram.